OPINIÃO Quarta-feira, 26 de Junho de 2024, 16:49 - A | A

26 de Junho de 2024, 16h:49 - A | A

OPINIÃO / DANDARA AMORIM

(Re)encontrando memórias: a construção e singularidade da lendária Pedra Simião Silva Arraya no município de Barra do Garças



A Pedra Simião Silva Arraya é um monumento de notável relevância, tanto no contexto geológico quanto cultural. Localizada em uma região de significativa importância histórica, esta formação rochosa se destaca por suas características físicas impressionantes e sua carga simbólica. A pedra apresenta uma composição robusta e maciça, frequentemente descrita como um afloramento de granito, com tonalidades que variam do cinza claro ao escuro, pontuadas por veios e inclusões minerais que conferem um aspecto heterogêneo e texturizado. Sua superfície irregular e levemente desgastada pelo tempo revela a ação dos elementos naturais ao longo de milênios, resultando em formas e contornos únicos que muitas vezes inspiram interpretações simbólicas e culturais (Godoi, 2012).

O contexto histórico da construção e utilização da Pedra Simião Silva Arraya está intimamente ligado às culturas ancestrais que habitaram a região. Evidências arqueológicas sugerem que a pedra foi utilizada desde tempos pré-históricos, inicialmente como um local de observação astronômica e posteriormente como um centro cerimonial e de culto religioso. Durante o período colonial, a pedra continuou a ser um marco de referência tanto para os povos nativos quanto para os colonizadores, servindo como um ponto de orientação e um local de encontros comunitários. Relatos históricos documentam que a pedra também foi um símbolo de resistência durante períodos de conflito, sendo um refúgio para grupos indígenas e escravos fugitivos (Santos, 2005).

A construção da Pedra Simião Silva Arraya, embora natural, foi significativamente adaptada pelo homem ao longo dos séculos. Intervenções humanas incluem a escavação de nichos e cavidades, bem como a gravação de inscrições e símbolos que refletem as práticas culturais e religiosas de diferentes épocas. Essas modificações indicam que a pedra não foi apenas uma formação natural, mas um artefato cultural continuamente moldado pelas necessidades e crenças das sociedades que a rodeavam. A utilização da pedra variou desde rituais religiosos e observações astronômicas até assembleias comunitárias e atividades de resistência política (Oliveira, 2012).

Os significados simbólicos e culturais atribuídos à Pedra Simião Silva Arraya são numerosos e variados, refletindo a riqueza das tradições e das cosmologias das culturas que a veneravam. Na cosmologia indígena, a pedra era frequentemente associada a divindades da terra e do céu, sendo considerada um ponto de conexão entre o mundo físico e o espiritual. Para os colonizadores e os grupos cristianizados, a pedra assumiu novos significados, muitas vezes reinterpretados através de uma lente religiosa que via nela um símbolo de força e resistência divina. Inscrições e lendas locais narram histórias de milagres e eventos sobrenaturais associados à pedra, fortalecendo seu status como um objeto de veneração e respeito (Murillo, 2010).

A Pedra Simião Silva Arraya não é apenas uma formação geológica, mas um marco que carrega consigo histórias, lendas e significados que foram sendo construídos e reconstruídos ao longo do tempo. A construção dessa memória coletiva é resultado de interações sociais e culturais que consolidam a pedra como um símbolo de identidade local. As lendas associadas à Pedra Simião, muitas vezes transmitidas oralmente, desempenham um papel vital na manutenção e na transmissão das tradições culturais, oferecendo um elo tangível com o passado da região.

A singularidade da Pedra Simião Silva Arraya reside na sua capacidade de encapsular múltiplas dimensões de significância para a comunidade de Barra do Garças. Para além de sua presença física imponente, a pedra se torna um ponto de convergência para rituais, celebrações e práticas culturais que reforçam o senso de pertencimento e continuidade histórica entre os habitantes locais. A construção de narrativas em torno da pedra reflete um processo dinâmico de construção de memória, onde cada geração contribui para a perpetuação e adaptação das histórias que envolvem esse monumento natural. 

Dandara Amorim é advogada, coordenadora do curso de bacharelado em Direito do Centro Universitário do Vale do Araguaia (Univar), professora no Centro Universitário do Vale do Araguaia (Univar), mestra em Desenvolvimento e Planejamento Territorial pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO), mestranda em Estudos Culturais, Memória e Patrimônio na Universidade Estadual de Goiás (UEG), especialista em Direito Civil e Processo Civil pelo UniCathedral, especialista em Gestão Pública pelo IFMT.

E-mail: [email protected].



Comente esta notícia

Durval Ferreira de Oliveira 30/06/2024

Belíssimo trabalho Dra Dandara . No início deste mês , a prefeitura colocou uma grade, idêntico a uma jaula. Longe de ser uma proteção que o maior símbolo arqueológico de Barra do Garças merece .

1 comentários

1 de 1