Da Assessoria
MuHNA
O Museu de História Natural do Araguaia (MuHNA) da Universidade Federal de Mato Grosso reuniu representantes dos Poderes Executivo e Legislativo, além de lideranças indígenas, para o lançamento da Cartilha Multimídia Intercultural Xavante Português Aves do MuHNA e do primeiro episódio da série audiovisual Formação A’uwe. O evento aconteceu na terça-feira, dia 22, em comemoração ao Dia dos Povos Originários. A programação fez parte do evento Noite no Museu, e teve a apresentação da exposição Biodiversidade: passado, presente e futuro da vida no planeta pelos curadores das coleções de Paleontologia, Zoologia e Botânica e do Espaço Digital.
O encontro de gestores municipais, vereadores, pesquisadores e acadêmicos autores da cartilha pioneira acontece um ano após o lançamento da versão impressa do livreto em escolas no centro urbano de Barra do Garças e na Aldeia São Marcos. Com a versão multimídia, a cartilha passa agora a ser acessível para qualquer pessoa com conexão à internet, permitindo a popularização da língua Xavante em muitas instituições da região.
Além das informações já previstas na versão impressa, a cartilha multimídia traz o som das aves e a pronúncia em Xavante do nome de cada um dos animais, além de audiodescrições disponíveis na plataforma Spotify. Os leitores também podem encontrar vídeos sobre a biodiversidade e informações sobre os riscos de extinção das espécies. De acordo com o professor Augusto Bozz, responsável pela adaptação para o meio digital, o processo envolveu a escuta de diferentes grupos sociais, como os indígenas e a comunidade cega, para dar mais acessibilidade à publicação.
O professor de Linguística e co-autor da cartilha intercultural lançada no evento Maxwell Miranda explica que o material é o ponto de partida para outros materiais bilíngues que possam ser produzidos pelo museu e distribuídos para a comunidade xavante. “Estamos falando de um universo de sete terras descontínuas que têm uma população de aproximadamente 25 mil pessoas. A ideia é que trabalhos futuros possam ser estendidos para outras terras, além da Aldeia São Marcos”, comenta.
O professor intercultural, líder indígena e presidente da Associação de Proteção Social Indígena e Recuperação Ecológica (APSIRE), Oscar Urebete teve participação importante na elaboração da cartilha. A partir da lista de aves, o indígena buscou incluir não apenas informações traduzidas, mas também inseriu a relevância cultural dessas aves para os indígenas Xavante.
A diretora do museu Márcia Cristina Pascotto lembra que o MuHNA nasceu com objetivos de inclusão e acessibilidade, como a Sala dos Sentidos. Durante o evento, a professora destacou as inúmeras contribuições da instituição para diferentes setores da sociedade, desde a educação até o turismo, passando pela inclusão de grupos vulneráveis.
POLÍTICOS DESTACAM POTENCIAL PEDAGÓGICO, ECONÔMICO E CULTURAL DO MuHNA E DEFENDEM EDUCAÇÃO ACESSÍVEL A TODOS
Participando da Noite no Museu, o vice-prefeito de Barra do Garças, professor Sivirino Souza dos Santosn (MDB), apontou os potenciais pedagógicos e turísticos do museu. Para ele, o MuHNA é um espaço que pode ser enriquecedor para as crianças que estão estudando nas escolas da região e também para os visitantes de Barra do Garças. “É um ponto a mais para visitação, porque boa parte dos turistas que vêm de fora gosta desse tipo de turismo cultural, de vir aqui e apreciar coisas novas, de fotografar e levar Barra do Garças para fora”, comenta.
De acordo com o vice-prefeito, que representava o prefeito Adilson Gonçalves (PL) no evento, a universidade é um patrimônio da cidade. “Eu sou filho da UFMT, me formei na UFMT, fiz Matemática e Educação Física aqui, minha pós-graduação é UFMT e quero fazer um mestrado na instituição”, pontua. Para ele, todo e qualquer trabalho que coloque em evidência a universidade pública presente na cidade, precisa ser levado a sério. “A parceria com o MuHNA é importante com certeza. (...) E temos excelentes parcerias com a UFMT na formação de professores e no trabalho pedagógico com alunos para melhorar a nossa educação também na base”, explica.
Para o vereador Dr. Neto (PSB), o museu é um espaço que articula pesquisa, entretenimento e inclusão. “Na primeira oportunidade em que estive aqui, trouxe comigo a presidenta da Associação dos Cegos de Barra do Garças [Sebastiana Oliveira] que ficou muito encantada e junto com outra pessoa com deficiência visual colaborou com orientações também na composição desse museu”, contextualiza. As opiniões dos usuários, especialmente das pessoas com deficiência, foram consideradas no momento da reforma do museu ocorrida em 2024.
Além dos impactos para o conhecimento da região, a vereadora Bianca de Freitas (MDB) destacou o ambiente divertido e tecnológico do museu. “É um ambiente recheado de coisas que são desconhecidas para quem vive aqui. Às vezes na correria do dia-a-dia a gente acaba não conhecendo a fauna e a flora local e de fora. Acho que é um impacto realmente de conhecimento (...) Para as crianças é um mundo a ser descoberto”, comenta. A vereadora defende a criação de leis que garantam o incentivo a propostas como do MuHNA. “Para que isso aqui hoje existisse, houve alguma política pública por trás que tornasse isso realidade”, argumenta. Para ela, não basta apenas divulgação para atrair pessoas interessadas para a universidade, mas políticas de permanência. “O que sustenta efetivamente isso aqui é a política que garante os recursos”, defende.
A Noite no Museu foi a primeira visita do vereador Adilson Tavares (Podemos) ao MuHNA. O parlamentar ficou admirado com a beleza e as informações expostas. “Para mim está sendo uma surpresa muito agradável estar aqui hoje [dia 22]”, diz. O vereador também alerta sobre a importância da classe política estar atenta para a situação das universidades que produzem conhecimento. “Eu já fui professor universitário por 13 anos, eu fico muito triste quando eu vejo no noticiário que os políticos cortaram tantos milhões de verba para a pesquisa de academia”, explica.
Também presente no evento, o vereador Bebeto Betti (PL) defende a importância dos museus para a preservação das tradições e memórias de um povo, apesar de não haver no Brasil total reconhecimento desta relevância. “Quando viajei pelo Brasil e por vários países, eu visitei os museus. Acho que quando a gente vai é diferente. Por isso, tem que ser valorizado. (...). Aqui [no Brasil] nem sempre é valorizado”, argumenta. Para o vereador, a tradição de visitar museus e conhecer o passado das gerações anteriores ajuda a preservar a história e a memória de um território.
CURADORES APRESENTAM COLEÇÕES PARA CONVIDADOS EM NOITE ESPECIAL
A comemoração do Dia dos Povos Originários na última terça-feria, 22, também foi a primeira edição da Noite no Museu, que prevê atividades exclusivas para convidados. Desta vez, os curadores de três coleções e do Espaço Digital apresentaram detalhes sobre o acervo. Na ocasião, os representantes dos Poderes Executivo e Legislativo puderam interagir com os docentes e questionarem a origem das peças que compõem a exposição Biodiversidade: passado, presente e futuro da vida no planeta.
Durante a visita guiada, os convidados puderam conhecer mais sobre o passado geológico da cidade, que já abrigou águas salgadas. “Nossa cidade tem formações rochosas que contêm fósseis com 400 milhões de anos de idade e atestam que essa nossa região já foi um mar”, explica o curador da Coleção de Paleontologia e Geologia Silvio Colturato. Para ele, esta foi mais uma oportunidade para conscientizar a população e as autoridades sobre a importância dos fósseis para o conhecimento científico. “São materiais que podem subsidiar projetos de pesquisa e projetos de extensão. (...) A medida que a cidade vai se expandindo, os loteamentos vão se implantando, fósseis são encontrados. Muitas vezes há descuido por parte da população, por parte das autoridades, no sentido de ter esse conhecimento e da importância desse material para a ciência, para a divulgação científica e até para o conhecimento científico”, argumenta.
A biodiversidade atual da vida no planeta, representada nas coleções de Zoologia e Botânica, também foi apresentada pelas curadoras Márcia Cristina Pascotto e Maryland Sanches, respectivamente. A professora e diretora do museu Márcia Pascotto percorreu as estantes destacando os felinos entre as peças da coleção de Zoologia. Atualmente, o museu exibe uma onça-pintada, considerada o maior felino das Américas. O animal foi entregue à equipe de taxidermia do museu pela Polícia Rodoviária Federal após encontrar o felino à beira da rodovia depois de um atropelamento.
A professora do curso de Biologia da UFMT Maryland Sanches acredita que a interação com os visitantes foi uma oportunidade para eles conhecerem e questionarem sobre o universo das plantas. “Muitos conhecem, às vezes pelo nome popular, mas não sabiam da particularidade como era um fruto, por exemplo, aqui da vitrine. Para ela, o objetivo da atividade é comentar a diversidade do Cerrado por meio de ramos, de sementes, de frutas, de folhas com o público seleto da noite. A professora adianta que dois tablets serão incluídos para abrigar informações sobre todos os itens expostos. “E em um futuro breve vamos garantir também mais acessibilidade, por exemplo, aos deficientes visuais com audiodescrições”, adianta.
Apesar de não constituir uma coleção científica e cultural do MuHNA, o Espaço Digital representa o futuro da exposição Biodiversidade e também foi apresentado pelo professor do curso de Ciência da Computação, Ivairton Santos. Com inteligência artificial, realidade aumentada e simuladores, os recursos tecnológicos do museu atraem os visitantes que aprendem sobre o Cerrado se divertindo.
Para Ivairton Santos, a Noite no Museu é uma iniciativa da universidade, especialmente do museu, para alcançar a sociedade levando conhecimento, ciência e entretenimento. “Objetivo primeiro ampliar e levar a educação para toda a comunidade, além de proporcionar pesquisa, ensino e extensão. (...) Além disso, o lançamento da cartilha intercultural é muito importante porque ela aborda um tema que é relevante e importante para a nossa região do Araguaia que é a cultura indígena”, comenta.
Ivairton Santos ainda destaca a oportunidade dos curadores estarem no evento com a possibilidade de explicar os detalhes de todo o processo de concepção das coleções, de preocupação em abordar os temas com responsabilidade e de como apresentar isso para o público. Para ele, a noite também foi a chance dos docentes terem um retorno de como o público tem recebido esse trabalho. “Então, isso para a gente é fundamental: ver as pessoas usando e termos condições de avaliar o modo como elas interagem, especialmente no meu aspecto, na minha área de tecnologia (...), e isso tudo vai me dando algumas referências de aspectos que podem ser melhorados, aprimorados e tudo mais”, conclui.
O estudante de Ciência da Computação Cayo Felipe Teodoro Correia argumenta que, com a disseminação da tecnologia, a proposta do MuHNA permite uma melhor interação entre homem e máquina no acesso às coleções. O aluno também destaca o quanto o Espaço Digital atua na formação dos colegas de área de formação. “Melhora a capacidade deles poderem se envolver em algo mais prático implementando os equipamentos”, comenta.
O estudante de Direito Victor Hugo Vilela de Toledo lembra que em tempos de aquecimento global é de extrema importância a divulgação científica em relação ao meio ambiente realizada pelo museu. “É importante termos conscientização em relação aos direitos ambientais”, opina.